domingo, 25 de setembro de 2011

Aeroporto

Aeroporto, uma ponte de sonhos, raríssimas vezes de pesadelos...


São dez horas da manhã de mais um domingo em que o Aeroporto de Congonhas recebe minha cordial e costumeira visita. Faço isto duas vezes ao mês. Sigo um rigoroso ritual: adquiro a Folha de São Paulo e vou direto à minha lanchonete predileta, beber meu tradicional cappuccino...

Visitar o aeroporto quinzenalmente tornou-se um hábito em minha vida.

É muito interessante a energia do ambiente, a qual é mesclada por inúmeras nuances emotivas, que chegam a me confundir, pois a egrégora do ambiente é de agitação, nervosismo, correria, ora de tristeza, ora de alegria, alegria em que o coração tenta sair pra fora, ter vida própria e bailar naquele redemoinho de cores e sorrisos!

Terminei meu café, dobrei o jornal e comecei a observar o frenesi de pessoas sempre com muita pressa, mesmo que o relógio esteja girando a favor. No primeiro momento, tenho a impressão de que tudo o que estava vendo mais parecia um salão de baile, numa festa de gala, onde cada um dança uma ilusão, na cadência de um sonho...

Pela expressão corporal de cada passageiro, já reconhecia de longe um turista. Os turistas são os mais barulhentos e afoitos. Esquecem que o melhor da festa é esperar por ela, é a preparação, é a viagem...

Os executivos, os que viajam a negócios estão sempre sozinhos, pensativos, fazendo mil projetos, chegam a conversar com as paredes. Alguns deles, no afã, querendo atropelar o tempo, retiram seu notebook e começam, ali mesmo, elaborar planilhas e relatórios. Eles não estão presentes, poucos deles sabem que estão no aeroporto, nem sabem que estarão em um avião, pois já dormem no primeiro sinal luminoso de apertar os cintos.

Um tipo de passageiro de fácil identificação é aquele que faz compras, quer compras pessoais quer compras comerciais. A maioria viaja sozinha, tendo como companhia muitas malas, muitas sacolas. Malas e sacolas recheadas de sonhos, na ida. Na volta, repleta de mercadorias e preocupações.

Parei de observar as pessoas por alguns instantes. Senti vontade admirar as decolagens e as aterragens das aeronaves. Subi um lance de escala e lá estava ante um grande espetáculo. O movimento era imenso, aviões de todos os tipos e de várias companhias, uns taxiando, outros voando, outros ainda já estacionados. De onde estava, o desenho era lindo, parecia uma colméia, inclusive na organização. Tudo era muito sincronizado, muito perfeito, aliado à beleza das paisagens!

Olhei no relógio e por espanto, verifiquei que já estava bem próximo do meio dia. Aeroportos como o de Congonhas têm de tudo e tudo do melhor. Desde shoppings, salão de beleza até engraxataria. Procurei um bom restaurante, fiz um almoço leve, porque sabia que esta minha aventura iria terminar somente às dezessete horas.

É muito gostoso, é muito prazeroso passar um dia em algum aeroporto!

Andei pela passarela, caminhei um pouco pelo saguão, onde centenas e centenas de pessoas falavam ao mesmo tempo, provocando um imenso burburinho, com palavras inaudíveis, a confundir todos os ouvidos. Resolvi parar numa livraria. Comprei um livro e ali mesmo, sentei numa cadeira e voltei a observar o semblante de todos os passageiros, uns indo, outros voltando.

Os aeroportos são janelas abertas para o mundo!

Como é fácil distinguir um casal que viaja em lua de mel. Estão sempre bem vestidos, bem penteados, sempre agarradinhos, sem medos e com pureza dão aquele beijo demorado, dão aqueles abraços intermináveis cheios de juras de amor, pedindo ao Universo que pare o tempo naquele mágico momento...

É muito curioso, muito interessante observar os passageiros que estão viajando para conhecer outras regiões, outros países. Suas vestimentas são peculiares, mais parecem que estão partindo para um safári, em continente africano. São pessoas puras, são pessoas que gostam de fortes emoções. São verdadeiros mochileiros!

Senti um nó na garganta quando observei passageiros mudando de cidade. Senti que eles deixavam para trás uma história, umas bem resolvidas, outras com sabor amargo. Mas, em seus semblantes sempre havia uma mensagem escondida de esperança.

Não é fácil deixar pedaços de si, levar pedaços dos outros e ainda ter fé para um recomeçar.

Recomeçar é próprio de almas valentes, de almas guerreiras!

Os aeroportos têm também as imagens de solidão, quando não existem abraços de despedidas, quando todos os rostos são desconhecidos, nas chegadas.

A impressão é que vivem ilhados neles mesmos. As despedidas são tristes, porém é muito melancólico não ter de quem se despedir. Na recepção, às vezes, sentimo-nos como no teatro completamente vazio em nossa apresentação. Faltam abraços!

O interessante em aeroportos é que sua população flutuante muda a cada hora, a cada instante.

Alguns passageiros de primeira viagem são reconhecidos pelo medo de voar, suas mãos ficam frias e suadas. Eles ainda não acreditam que a aviação seja o meio de transporte mais seguro que existe.

Ainda sobre medos, muitos medos são completamente abafados pelas preocupações que instalaram em alguns viajantes. Eles não conseguem disfarçar. Muitas vezes, os seus desafios estão maiores do que eles, ficam insuportáveis e os medos passam a ter nenhum significado...

Fato curioso em aeroporto é quando observamos a ala internacional. Parece uma passarela, um desfile, cada pessoa mais bonita, mais elegante e bem vestida que outra. Seus semblantes estão sempre alegres, dá-se a impressão que estão indo para o paraíso, mesmo sabendo que o céu está em cada momento.

Como é maravilhoso ver o desfile das aeromoças, dos co-pilotos e comandantes, ora indo, ora vindo, todos imponentes, uniformizados, puxando a maletinha de pertences domésticos. Eles se sentem verdadeiros heróis naqueles desfiles!

A energia instalada é contagiante. De tanto ver abraços, abraços apertados, sorrisos, sorrisos encobertos de lágrimas, senti uma louca vontade de deixar o cappuccino, o jornal, deixar de observar todas as pessoas... e entrar na primeira fila de embarque ou desembarque e começar a abraçar todas as pessoas. Senti-me na anti-sala do Nirvana. Senti o Amor em cada pessoa, em cada semblante. Senti o Eterno nestes lindos momentos, nestes belos encontros!

...

Realmente, estas visitas aconteceram quando morei em Sampa. Bons momentos...

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