sábado, 24 de setembro de 2011

Ventos

Lendo as Reminiscências de meu querido sobrinho Zema, senti-me despertado em júbilo e contentamento ao saber que ele, ingênito poeta, foi visitar alguns capítulos do livro da vida de nossa linhagem, nossa ascendência.

Claro, são capítulos lidos e relidos, mas ainda se encontram vivos em nosso âmago tão cauterizado por ventos, ora fortes ora fracos, portadores de desafios ímpares a caldear, a forjar nossa alma andarilha, inquieta, desconfiada e contrita, às vezes até vagabunda, nesta caminhada sem fim, neste mundão de meu Deus!

São ventos que trazem...

Sim, que bom que lembrou de nossa Santinha!

Ela é como os ventos, uma mensageira sem igual, arauto de todas as lições, de todos os aprendizados, soube dar o próprio exemplo, nunca se esquecendo de conselhos sem conselhos. Com temporal ou com bonança ela sempre trouxe consigo os espíritos amigos, trazendo e levando pessoas que chegaram e que se foram.

Portadora de uma simples mensagem, um simples alerta, um exemplo de vida!

São ventos que levam...

Ela, nossa Santinha, foi como os ventos do Sul a nos oferecer fé e humildade; como os ventos que sopram do Oeste nos inspirando a religiosidade e a introspecção; os ventos do Norte nos aconselhando a gratidão com tudo e com todos; e como os ventos do Leste nos ajudando nas dúvidas e pensamentos sombrios, insinuando sempre que não existem sofrimentos, existem sim desafios a serem vencidos, superados, pois somos de uma boa têmpera, por imposição do fogo cauterizador de nossos próprios desafios. Tudo porque

Os ventos que levam são os mesmos ventos que trazem...

Meu jovem poeta Zema, grato por lembrar de nossa Santinha. Ela, naquele silêncio que falava tão alto, sempre nos inspirava como verdadeira musa, que não encontraremos em ninguém o que realmente buscamos, nem em palavras que nos chegam com os silfos, nem em livros escritos em ouro, nem em aconchegos nem em conchavos.

Ela sempre nos inspirou que devemos nos buscar em nós próprios, ter boa ação na ação, uma boa moral e uma boa conduta de vida, pois

Os ventos que trazem são os mesmos ventos que levam...

Mas, Zema, o mais intrigante é que nossa inesquecível Santinha mantinha sempre nos olhos uma lágrima por cair.

Incrível!

Não sei se ela era dedicada aos seus filhos retirados antes do tempo ou ao teu príncipe encantado, o Ricardo Suarez, que viajara para a Estrada Azul, mas

Os ventos que levam são os mesmos ventos que trazem...

Nossa matriarca nos legou um exemplo de vida, com características insólitas, onde o trabalho, a tolerância e a resignação eram seus estandartes. O seu maior legado foi o amor a Deus, o desvelo com todos e a união familiar. Porém, de sua personalidade, o que realmente mais sobressaía era o carinho e a dedicação que sempre dispensara ao seu companheiro de jornada, que sempre foi o teu próprio mundo. Entre ambos, aconteceu um idílio colorido, de nuances de reverência e respeito, de confidências mil, que chegava a confundir mesmo os poetas das estrelas deste céu anil!

Ambos deixaram a Estrada Vermelha, pois

Os ventos que trazem são os mesmos ventos que levam...

Às vezes, meu caro idealista e sonhador Zema, nós questionamos ao senhor da Vida, ao proprietário do grande Silêncio o porquê recolher almas tão doces, tão meigas, usando ventos frios e misteriosos!

Dentro deste mesmo Silêncio vem a resposta à nossa indagação de que tudo precisa se metamorfosear, a vida precisa de novas formas, pois o fluxo, o balanceio na grande viagem de volta não deve ser alterado. Tudo passa como devaneios, às vezes meio confusos, ora silentes, ora ordeiros e ora moleques, como divagação quimera...

As mudanças, as transformações, novos sonhos acontecem sempre como o milagre da vida, pois a vida é um milagre.

A vida nunca deixa de ser vida, mesmo quando os ventos nos levam, mesmo quando os ventos nos trazem!

...

Na cultura xamã,

1) Estrada vermelha é estar encarnado aqui na Terra

2) Estrada azul é quando desencarnamos

3) Grande Silêncio ou Grande Mistério = Deus

4) Silfos e Sílfides = Elemental do ar

Zema > José Maurício, filho da Thereza, minha irmã

Santinha > minha mãe. Ricardo > meu pai

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