domingo, 25 de setembro de 2011

Os castiçais

Quando a exaustão atinge o próprio limite, existe um ar de felicidade no navio cansado, fatigado do canto das sereias em forma de ondas inquietas, do cheiro da maresia, do balanço do mar, querendo descansar em qualquer porto seguro... visualizamos no horizonte um farol alegre, mais parecido com um vaga-lume dançarino, insinuando uma nova chegada.

Como é bom enxergar um farol vestido de castiçal!

Os castiçais são maravilhosos. Uns se mostram em ferro bruto, sem lapidação, outros fortes como o bronze, outros ainda diáfanos, vestidos de vidro, como se fossem invisíveis. Os castiçais de madeira parecem não ter sentimentos, parecem frios, melancólicos. É a maneira que eles estão se mostrando. Sempre acontece uma vela misteriosa, uma vela no caminho.

Os mais elegantes, os mais imponentes são os castiçais de cristal...

Os castiçais são como você, cada um se postando de um jeito, cada um se mostrando à vida a mágica divina em toda criação.

Não devemos comparar os castiçais, uns com os outros. Cada um é uma história. Mais cedo ou mais tarde, todos eles deixarão de ser drusas para ser uma pedra lapidada, onde será morada do fogo divino, que tudo clareia.

Eles, da mesma forma que nós, precisam de luz. A maioria caminha na escuridão, não consegue ver nem enxergar o norte de suas vidas.

Longas caminhadas acontecem e sempre estão no mesmo lugar. Viajam em círculos. Precisamos colocar em cada um dos castiçais uma vela acesa. Enquanto não aceitarem a luz em si próprios, precisamos ser o farol de cada um deles.

Devemos nos preparar para receber as velas de todas luminosidades, pois corremos o risco de fenecer como as mariposas, em contacto com a clara luz. Precisamos ir acostumando nossas vistas...

Uma pessoa iluminada, um ser desperto, consegue clarear a estrada de milhares de viajores. Com certeza chegarão ao destino com mais segurança e não chegarão como um livro de páginas em branco. É muito triste e lamentável ler livros sem encontros, sem romance, sem espinhos, sem derrotas, sem conflitos.

A vitória nada mais é do que escrever o livro da vida!

Precisamos continuar a desenhar nossa viagem, com as cores disponíveis. Se você souber, se você tiver paciência com os pincéis, um arco-íris será visto na capa desta história. Páginas em branco não são referências, elas não trazem crescimento, são velas apagadas e castiçais deixados pelos cantos da estrada.

Colegas de senda, ao pintar as páginas de sua vida, não se preocupem com eventuais distorções que possam surgir na mistura das tintas, na alquimia de todas as interações. Existe uma infinidade de combinações e nuances sem fronteiras.

No final, você observará uma perfeição na tela, e saberá também que não é o castiçal o artista dos pincéis, é a luz de candeia que existe em você!

Passageiros desta longa viagem, nas estradas em que todos estão, mesmo achando que estão parados, acontecem encontros, mesmo os considerados fortuitos, encontros de castiçais com outros castiçais, de castiçais com seus irmãos candeeiros, com seus irmãos candelabros...

Os candelabros são maravilhosos!

Estão em uma estrada paralela a sua, cumprindo sua missão, que deve ser considerada e respeitada. Observem a alegria e a paz que trazem os candelabros, iluminando a praça de sua cidade, as avenidas, trazendo luz e calor, pedindo licença à escuridão pra você passar. Até parece que o céu chegou à Terra, numa dança de alegria, onde a luz se veste de cor, inspirando a nirvana em cada olhar.

Os humildes candeeiros levam luz e confiança aos esquecidos, sugerindo sonhos, esperanças em cada noite, sempre lembrando a todos eles que sempre existe um amanhã cheio de magia e transformação...

Chegamos a confundir uma procissão de velas com um festival do sagrado, onde o fogo de mãos postas tremula em direção aos céus, suplicando luz em todos os caminhos, luz em todas as esquinas e encruzilhadas.

Os castiçais, juntamente com o fogo que os vivifica, sempre foram as maiores testemunhas dos acontecimentos marcantes em nossa vida.

Quando você nasceu, quando você foi batizada, um castiçal vivo se fez presente, iluminando e abençoando sua chegada, discursando bem alto no silêncio da chama, enviando mensagens de luz, de vida e alegria.

Como é lindo ver um castiçal participando desses encontros monásticos!

Um dos primeiros convidados a chegar à cerimônia sagrada de seu matrimônio é o castiçal. Sua presença é imprescindível. Ele observa seu coração quase explodindo de felicidade. Ele observa o Amor em cada encontro, em cada união.

No seu momento derradeiro, quando você está desenhando a última página do seu livro, eis que surge o castiçal. Mesmo achando que seja um paradoxo, mas é neste momento em que ele mais se mostra feliz. Suas chamas rejubilam freneticamente num contentamento sem fim... Feliz porque terminou a tela, porque cumpriu sua missão.

Feliz porque em sua vida sempre aconteceram castiçais!

Com certeza, do outro lado da ponte, outros castiçais multicores te aguardam ansiosamente.

Todos nós precisamos ser como são os castiçais. Silenciosamente, eles iluminam caminhos, eles mostram estradas, mostram os perigos em cada curva. Eles são nossas silentes testemunhas...

Se você, neste momento, não puder ser uma vela, seja um simples palito de fósforo. Aceso, ele pode iluminar muitos devaneios, principalmente quando os devaneios de todos os candelabros, de todos os candeeiros e castiçais passam a ser também utopias, fazendo de todas as utopias uma realidade.

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