terça-feira, 27 de setembro de 2011

As 7 lágrimas de um preto velho

Texto de autoria de W. W. DA MATA E SILVA


"Foi uma noite estranha aquela noite queda: estranhas vibrações afins penetravam meu ser mental e me faziam ansiado por algo, que pouco a pouco se fazia definir...

Era um quê desconhecido, mas sentia-o, como se estivesse em comunhão com minha alma e externava a sensação de um silencioso pranto...

Quem do mundo astral emocionava assim um pobre eu? Não o soube, até adormecer e sonhar.

Assim, vi meu duplo transportar-se, atraído por cânticos que falavam de Aruanda, Estrela Guia e Zambi; eram as vozes da SENHORA DA LUZ VELADA, dessa UMBANDA DE TODOS NÓS que chamavam seus filhos de fé...

E fui visitando cabanas e tendas, onde multidões desfilavam, mas, surpreso ficava, com aquela visão que em cada um eu via, invariavelmente, num canto, pitando, um triste Preto Velho chorava.

De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei porque, contei-as, foram sete.

Na incontida vontade de saber, aproximei-me e interroguei-o:

- fala Preto Velho, diz a teu filho, porque externas assim uma tão visível dor?

E ele suave, respondeu:

- estás vendo essa multidão que entra e sai? As lágrimas contadas distribuídas estão a cada uma delas.

A primeira eu a dei a esses indiferentes que aqui vêm em busca de distração, na curiosidade de ver, bisbilhotar, para saírem ironizando daquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...

Outra, a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam.

E mais outra foi para esses que crêem, porém, numa crença cega, escrava de seus interesses estreitos. São os que vivem eternamente tratando de casos nascentes uns após outros...

E outra mais que distribuí aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda em busca de vingança, desejam sempre prejudicar a um seu semelhante - eles pensam que nós, os Guias, somos veículos de suas mazelas, paixões, e temos obrigação de fazer o que pedem... pobres almas, que das brumas ainda não saíram.

Assim, vai lembrando bem, a quinta lágrima foi diretamente aos frios e calculistas - não crêem, nem descrêem: sabem que existe uma força e procuram se beneficiar dela de qualquer forma. Cuida-se deles, não conhecem a palavra gratidão, negarão amanhã até que conheceram uma casa de Umbanda ...

Chegam suaves, tem o riso e o elogio à flor dos lábios, são fáceis; mas se olhares bem seus semblantes, verás escrito em letras claras: creio na Umbanda, nos teus Caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo ...

A sexta lágrima eu a dei aos fúteis que andam de Tenda em Tenda, não acreditam em nada, buscam apenas aconchegos e conchavos; seus olhos revelam um interesse diferente, sei bem o que eles buscam.

E a sétima, filho, notaste como foi grande e como deslizou pesada?

Foi a ÚLTIMA LÁGRIMA, aquela que vive nos olhos de todos os Pretos Velhos; fiz doação desta, aos vaidosos, cheios de empáfia, para que lavem suas máscaras e todos possam vê-los como realmente são ...

Cegos, guias de cegos andam se exibindo com a Banda, tal e qual mariposa em torno da luz; essa mesma LUZ que eles não conseguem VER, porque só visam à exteriorização de seus próprios egos ...

Olhai-os bem, vede como suas fisionomias são turvas e desconfiadas; observai-os quando falam doutrinando; suas vozes são ocas, dizem tudo de cor e salteado, numa linguagem sem calor, cantando loas aos nossos Guias e Protetores, em conselhos e conceitos de caridade, essa mesma caridade que não fazem, aferrados ao conforto da matéria e gula do vil metal.

Eles não tem convicção.

Assim, filho meu, foi para esses todos que viste cair, uma a uma AS SETE LÁGRIMAS DO PRETO VELHO!

Então, com minha alma em pranto, tornei a perguntar:

- não tens mais nada a dizer, Preto Velho?

E daquela forma velha, vi um véu caindo e num clarão intenso que ofuscava tanto, ouvi mais uma vez ...

- Mando a luz da minha transfiguração para aqueles que esquecidos pensam que estão ... ELES FORMAM A MAIOR DESSAS MULTIDÕES...

São os humildes, os simples; estão na Umbanda pela Umbanda, na confiança pela razão ... SÃO OS SEUS FILHOS DE FÉ.

São também os aparelhos, trabalhadores, silenciosos, cuja ferramenta chamam-se DOM e FÉ, e cujos salários de cada noite são pagos quase sempre com uma só moeda, que se traduz o seu valor numa única palavra:

INGRATIDÃO ..."


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