domingo, 25 de setembro de 2011

Marcas do tempo

“Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.” Carlos Drummond de Andrade.


Toda idade tem sua magia, tem seu encanto.

Ontem, nós fomos crianças, sentimos como é bom ser anjo, como é boa a inocência, como é gostoso brincar, sonhar, sem nenhuma preocupação, como vivem os passarinhos, que tem as árvores como moradas, a natureza como alimento e vivem sempre cantando mesmo durante as turbulências que surgem a cada instante!

De repente, o sino soa. Chegamos aos 15 anos. As primeiras espinhas no rosto começam a surgir. Olhos inquietos, cheios de interrogações, começam a acontecer.

Dá-se a impressão de que a cortina do teatro foi aberta. Surge a platéia e, apressados, começamos a colocar nossas máscaras, começamos a interpretar nossos papéis.

Também é um sonho, mas um sonho diferente, em local diferente. Deixamos de representar nos jardins, passamos a representar no palco da vida.

Como são boas as primeiras descobertas, o primeiro namoro, os 17 anos!

Tudo passa a ser uma disputa, um afã... eles parecem ser os donos do mundo, um mundo colorido. Permitamos que eles sejam os proprietários. Permitamos que eles saboreiem estas delícias de momentos, uns querendo se mostrar bonitos, outros importantes... Vocês já notaram como os jovens têm pressa? Eles pressentem que tudo é um instante, mesmo sabendo que toda uma vida acontece num momento!

A juventude é linda!

Na manhã seguinte, eles estão na Faculdade, querendo pensar como adultos, mesmo aos 21 anos. Sonhos diferentes se alternam. Passam a viver como pessoas com mais idade, projetando-se casados, projetando-se como executivo de uma grande empresa.

Como é lindo sonhar! Toda realidade de hoje foi um sonho de ontem... Infelizmente, as pessoas não vivem seus momentos, sempre estão vivendo o futuro. O futuro é representado pela esperança que nos alimenta, mesmo sabendo que é miragem, é devaneio, é tempero colocado na travessa viva da utopia...

Uma formatura é um espetáculo de luzes! É como estarmos no centro do pódio cantando Ouviram do Ipiranga... São momentos ímpares, são alegrias em forma de aquarelas vivas. Chegamos a perder o fôlego.

O primeiro emprego após a formatura tem sabor de alma vencedora, depois de uma longa maratona... Até parece que o futuro chegou, até parece que o amanhã e o hoje se abraçaram, um abraço apertado!

Não somente os doutores merecem nossos aplausos, mas todos os acadêmicos da vida, todos os guerreiros de ideal devem ser reconhecidos e reverenciados.

Os instantes se sucedem uns aos outros, chegando a atropelar a vida. A maioria casa, muda de casa. Outros, por opção ou por alguma condição seguem outras estradas.

Surgem novas famílias, juntamente com sonhos diferentes, desafios variados.

Neste momento, estamos em dezembro de nossos quarenta anos!

Incrível, como o tempo voa! Ontem, eu estava brincando de pipa, hoje estou arrumando e ajustando tudo, de olho nos próximos anos. Mas, o tempo nunca passou tão rápido como a próxima década. Foi um piscar de olhos. Cheguei a duvidar que fizesse aniversário, comemorando 50 velinhas. Foi bom. Fiquei pensativo, comecei a brigar com os primeiros fios brancos que surgiram...

O tempo foi passando, a vida acontecendo, minha batalha pessoal com os cabelos brancos e as rugas foi criando espaço, tornando-se uma verdadeira guerra, mas o maior conflito de minha vida, neste momento, era aprender a degustar novas frases que começaram a surgir, como pessoa da melhor idade, terceiras idades, gente idosa, outros tantos adjetivos. Não estava acostumado com isto. Até então eu pensava que meu corpo fosse eu. Esqueci-me de que nunca vou envelhecer, pois sou uma alma sonhadora!

Não existem rugas em nosso coração!

Cheguei. Ufa. Hoje, sou um idoso com muito prazer. Claro que tenho rugas e muitos cabelos brancos. Elas fazem parte de minha vida, porque elas representam muitas medalhas que deixei de ganhar. Muitos agradecimentos que se recusaram a chegar. Representam condecorações silenciosas por todos os embates de todos os momentos desta travessia.

Devo confessar que sinto saudades dos meus 17 anos.

Confesso também que sou feliz como sou, aprendi a me aceitar, aprendi que devemos viver intensamente cada época de nossa vida. Aprendi que nosso corpo físico é apenas uma ferramenta de viagem.

Nossa alma é uma criança sapeca, brincando de viver.

Atravessei uma longa estrada. Sinto no dever de sugerir a você, linda pessoa de 20 anos, pessoa cheia de sonhos, repleta de vida, que não deixe uma cadeira vazia ao seu amigo imaginário, sente nela alguém de sua família que precisa de seus ouvidos. Sua mãe, sua avó ou mesmo seu avô tem muitos casos pra contar... Estes casos são vidas para eles!

Converse com todos os seus amigos e parentes sugerindo que não é elegante praticar a apartheid das pessoas, considerando suas idades.

Finalmente, meu querido jovem sonhador, se o balanceio das ondas, em algum momento, te obrigar a colocar seu pai ou sua mãe em um asilo, beijo o chão com meus joelhos e te suplico que vá visitá-los pelo menos uma vez por ano, nem que seja por um pequeno instante, mesmo no final do dia 25 de dezembro...

Somente envelhecemos, somente morremos quando perdemos a capacidade de sonhar!

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