domingo, 25 de setembro de 2011

Omissão

"Então Pôncio Pilatos, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: - estou inocente do sangue deste justo, e o entregou aos carniceiros da época... "


Como sabemos, omissão é estar ausentes quando deveríamos estar presentes, é dar as costas a todos SOS que nos chegam, é a triste mensagem da indiferença que passamos. As pessoas se sentem invisíveis, sentem-se mortas, embora respirando vida...

Não estamos desenhando estas letras para julgar as pessoas, para julgar quem omite ou quem não omite. Estamos apenas mostrando o retrato de como você fica linda vestida de Amor, ou pálida, com olhos secos, quando a apatia ou a insensibilidade passam ser suas túnicas.

Muitos, mas muitos mesmo tentam justificar uma eventual omissão, quando descoberta, a uma timidez ou mesmo alegando que passou despercebido, mal sabendo que acontece realmente é uma covardia, onde os interesses pessoais nos cegam em relação ao sofrimento alheio.

Não tem como uma pessoa altruísta ser omissa. Os egoístas fazem da omissão uma ferramenta de vantagens, uma ferramenta que proporciona sempre ter mais, mais e mais, tentando encher o saco sem fundo da ganância.

Quantas vezes, fomos omissos com nossos filhos. Nós os vemos todos os dias, mas deixamos de enxergá-los, talvez porque eles não sejam nossa prioridade, no momento. O próprio gênio Sêneca, uma vez, afirmou que "eduquem as crianças e não será preciso punir os adultos". Isto é uma verdade inconteste, que presenciamos praticamente em todos os dias de nossa vida.

É uma lástima!

Acontecem casos de omissões que se transformam em rios de lágrimas, tamanha as tragédias decorrentes. Muitas vezes, por pressa sem motivo ou mesmo com algum motivo de pouca importância, viramos nosso rosto para não ver, para não socorrer um acidente. Mais tarde, ficamos sabendo, era nosso filho quem estava agonizando entre os ferros contorcidos. Ele poderia ter sido salvo por você. Infelizmente, este exemplo que relatei já aconteceu algumas vezes. Mas, não tem como voltar atrás, como disse o mestre Chico, tem como fazer um novo caminho, um novo começo... deixando de sermos omissos!

Outros tantos levantam a bandeira da omissão dentro da própria família, em relação à companheira, aos irmãos, aos pais. Eles, os omissos, estão sempre com pressa, andando rápido, fazendo questão de não ver nem de enxergar conflitos nem acenos.

Quantos paradoxos acontecem, quando seus interesses pessoais são alvos de algum perigo, mostram-se ser as melhores pessoas do mundo, mostram-se ser a encarnação de Madre Tereza, tamanha a bondade em que se revelam... mas, com tudo isto, não conseguem olhar nos olhos das pessoas...

E por aí segue como se fosse uma cadeia de sucessões em todos os segmentos de nossa vida. Omissões de todos os tipos, de todas as cores, em todos os níveis de relacionamentos.

No campo das interações afetivas, a omissão mais cruel é aquela que aparece vestida de covardia, quando conquistamos o coração de alguém sem intenção de amar...

Quantos encontros, quantos desencontros!

Em qualquer conflito, em qualquer tragédia, o primeiro passo a dar deve ser em relação à coragem, à iniciativa de não ficar de braços cruzados, é ter a audácia de mostrar atitudes. É não ter medo de ser bom... É mostrar o amor salvando vidas, salvando situações, salvando relacionamentos.

Omissão é quando deixamos de participar de um encontro quando o universo está nos convidando, quando o universo clama por uma postura elegante de nossa parte, quando espera que nossas mãos abençoadas comecem a trabalhar...

Somente somos abençoados quando abençoamos, é a lei do amor.

Não devemos omitir necessariamente porque a lei do Estado ou nossa religião assim recomenda. Não devemos omitir porque esta é a bandeira que deve estar em nossa alma. Compete somente a nós levantá-la e honrá-la.

Muitas pessoas procuram não omitir quando outras pessoas estão por perto, nos olhando. Talvez estejamos precisando de um elogio, talvez nosso ego precisa ouvir que somos uma pessoa especial. Todos somos especiais, precisamos apenas lembrar disto e mudar de estradas, se for o caso.

Finalmente, colegas de senda, afirmamos que a omissão é a ausência do amor nos encontros, é a indiferença onde alguém ou algo deixa de existir.

Nunca devemos nos esquecer de que somos responsáveis por todos, pela família, pela sociedade e pela humanidade, pois não somos ilhas isoladas, somos parte do continente e precisamos assumir nosso lugar e para isto, devemos ensaiar os primeiros passos do altruísmo, do amor que tudo impermeia...

Os esotéricos e os místicos cansam-se de recomendar que não devemos interferir em nada e nem na vida das pessoas. Contrariando essas belas almas, acreditamos que devemos estar presentes, mesmo interferindo, mostrando nossa presença desobrigada, presença divina em nós, salvando vidas, salvando situações, abrindo espaço para que carreguemos por alguns metros cruzes tão pesadas!

Quantos remorsos acontecem, quantos soluços ainda vivem, quantos olhos secos que se transformam em verdadeiras cachoeiras, somente porque usamos em algum momento a bacia de água de Pilatos!

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