domingo, 25 de setembro de 2011

Jardim de infância

Feliz da pessoa que possui um jardim para cuidar, viver e admirar. Viver o jardim com toda sua beleza, charme e mistério!

Não me refiro aos Jardins suspensos da Babilônia, uma das sete maravilhas do mundo antigo, onde Nabucodonosor II mandou prepará-lo e ofertou à lendária Semíramis.

Não me refiro também aos Jardins botânicos espalhados por todos os lugares da Terra, doando beleza, oferecendo perfumes e sugerindo alegrias.

Enfim, não me refiro ao Jardim das Oliveiras, no vale Kidron, Monte das Oliveiras, onde o carpinteiro foi avisar ao Pai sobre sua prisão.

Refiro-me ao meu jardim da adolescência.

Em quase todas as frentes de moradas há um jardim, uma pousada de Deus!

Lembro-me como uma nítida imagem, o jardim que freqüentava em minha infância:

Logo na entrada, plantada em vasos fixos as alegres e sistemáticas samambaias, vigis de toda a família.

Quantas lembranças me trazem, samambaias amigas, vocês que gostam de músicas suaves e cheias de paz!

Ao entrar, lado direito, havia lindas roseiras, brancas, rosas e vermelhas, que do alto, imponentes, observavam todo jardim, sugerindo ora amor divino, ora amor lascivo...

Lado esquerdo, estavam as margaridas, misteriosas e faceiras. Quando as vejo, encho-me de encantos e arroubos.

Nas ruas internas deste majestoso jardim estava a família das Onze horas. Como são preguiçosas as Onze horas! Só abrem suas belas flores antes do almoço e se fecham logo após estarem saciadas pela luz do Sol...

Continuando o passeio matinal, observava restos de chuviscos da noite. Deparava, lado a lado, com lírios brancos e cravos vermelhos. Quedei-me pensativo e absorto, em lembranças vagas... "nem Salomão, com todo seu poder, consegue se vestir assim, como um lírio do campo".

Mais adiante, lado direito, estavam as begônias, bromélias e hortênsias, todas pensativas e observando o astro rei, numa mágica, a desfazer pingos d água deixados pela lua, toda risonha e cheia de glamour.

No lado esquerdo, se postavam as lindas e vaidosas violetas e orquídeas.

Como são místicas as violetas, transmutando orvalhos em miríades de luz, chegando a confundir o telúrico com paisagens divinas, tal o misticismo!

E as orquídeas, lindas orquídeas, belas e diferentes de suas irmãs, sempre disputando graça e cortesia nesta passarela de encanto!

Bem no fundo, estava o imponente e misântropo girassol de dois metros de altura, todo esbelto, orgulhoso e perplexo, contemplando com o olhar fixo o autor da Vida!

Bem no centro do meu jardim, permanecia meu sombrio, meu lindo, meu preferido Manacá, esbanjando fragrâncias por intermédio de suas flores violetas. Seus perfumes eram suaves, misteriosos, perfume da noite, aroma secreto a penetrar meu ser, qual brisa extasiante!

Participei de muitos jardins. Muitas flores indefesas, roubei. Com orquídeas e hortênsias conversei e enamorei, mas nunca outro Manacá encontrei...

Nestas constantes visitas, sempre deparava com multicores borboletas, abelhas fugazes e beija-flores moleques, a retirar o néctar gratuito em forma de beijos amantes.

Este é o jardim de minha adolescência, onde descansava dos barulhos, onde me encontrava com meu silêncio, onde sentia a presença de Deus em forma de flores e perfumes.

Você que está terminando de ler este pequeno texto sobre o meu jardim, observe da janela como o mundo está agitado... buscas e mais buscas, conflitos e mais conflitos, tudo recheado de angústias, depressões e ansiedades.

Pare um pouco.

Vamos dar férias às turbulências da vida, vamos dar férias a todas nossas tormentas do dia-a-dia, vamos construir um jardim, vamos conversar com o Amor, por intermédio de todas as margaridas. Vamos conhecer a alma das Onze horas...

Em minha infância, desenhei meu ser com tintas coloridas de pétalas perfumadas deste meu jardim,

meu Jardim de infância!

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