terça-feira, 27 de setembro de 2011

meu primeiro amor

Nem havia completado meus 15 anos, o destino colocou-me frente a frente com meu primeiro amor.

Escondidos, passamos a nos encontrar, como se algum crime houvéssemos cometido.

Nossos encontros passaram a ser assíduos, com a assistência e testemunha de alguns colegas, também adolescentes, os quais riam de nossos abraços, abraços apertados!

Como foi bom o primeiro beijo, nem precisou ter sido roubado... A ânsia, o desejo, a volúpia tomavam conta de nosso ser. Nossos olhos, olhos enamorados passaram a brilhar freneticamente, como que bailar numa alegria insaciável.

Não nos encontrávamos em vai-e-vem, jardins públicos e cinemas; nosso amor era proibido, vivíamos a adolescência. A inocência dominava nossos sentidos; não conhecíamos ainda os caminhos escuros e vielas que este mundo esconde das crianças.

Sim, éramos duas crianças apaixonadas em época que não se permitiam abraços, beijos, sonhos, rabiscos de poemas em cadernos de rascunho. Havia fronteiras, muros nos separando, e nossa inocência não os via, olhos de anjos vêem somente anjos, somente flores.

Encontrávamos em lugares escuros em nossas casas, nos alpendres, nas varandas, sempre com olhares soslaios, preocupados em sermos descobertos pelo crime de amar alguém.

Esse era o ambiente em que vivenciei meu primeiro amor!

Numa sexta-feira, boca da noite, conversando com meus amiguinhos de infância, falei muito empolgadamente sobre minha felicidade, estampada em minhas rubras faces.

Dias foram passando, esqueci-me de quebrar o meu confidente e minha aventura tornou-se conhecida entre parentes e vizinhos .

A mãe de um coleguinha me chamou e disse:

- crime horrendo você está cometendo, procure um padre para confessar, penitencia-te e lava tua alma!

Cabisbaixo estava, cabisbaixo permaneci.

Cidade interiorana, anos 60, igreja como grande autoridade a monitorar vidas, como se vidas gerassem.

Perplexo fiquei a procura de erros, de crimes... mas mesmo assim, no sábado, com audácia e muito contrito, entrei ao templo, procurei o confessionário, ajoelhei-me frente aquele que me ensinaram ser o representante de Deus, e falei:

- Padre, tenho 15 anos, estou namorando, aprendi a abraçar, a beijar, encontrei a razão de minha vida; estou confuso. Disseram-me para penitenciar com Deus para ablução de minh’alma, pelo crime de amar. Não sabia, pediram para que eu confessasse a você, mas não estou confessando falta, estou falando de amor...

O padre, deu uma tossida costumeira, mudou-se de posição em sua poltrona estofada, sem olhar em meus olhos radiantes, disse:

- Filho, teus pecados estão perdoados; reze 20 ave marias e sinta-se em paz .

Não me penitenciei, pois criminoso não me sentia...

Continuávamos a nos encontrar, sorrir, conversar, falar futilidades, gargalhadas soltas sem fim aconteciam numa alternância de beijos, abraços que nos chegavam ao êxtase.

Mas, nosso amor não era libidinoso. Havia um magnetismo diferente. Aprendemos a conversar com os olhos. Nossos orgasmos se davam pelo coração!

Continuávamos a namorar. Havia pouco tempo que usava calças compridas; estava conhecendo o mundo. Sentir gente era o meu grande desafio.

Claro, minhas notas na escola caíram vertiginosamente. Eu me perdoava. Estava atônito com este mundo que se descortinava em minha frente... o mundo do amor!

Encontros proibidos tendo como testemunha uma Lua indiscreta, que entre nuvens nos olhava, ensinando que devem ser de olhos fechados os beijos amantes, beijos ardentes.

Continuamos enamorados, eu com 15 e minha companheirinha com 14 anos. Éramos inocentes. Não conhecíamos ainda as torpezas, as armadilhas da vida.

Até que o grande crime, o crime inafiançável fora cometido...

Separaram-nos!

Fomos postados em cidades diferentes, para que encerrácemos aquele sonho colorido, aquele idílio que somente jovens sabem viver.

Por que? Por que?

Ainda hoje, ouço um silêncio como resposta.

O primeiro amor, o amor verdadeiro se instala em nossos corações para nunca mais sair.

Aconteceram encontros e desencontros, mas nunca um outro encontro marcado surgiu como o meu primeiro amor.

Algumas dezenas de primaveras já se passaram, e ainda está aberta a rosa deixada em meu peito por aquela vestal que permanece viva em meus sonhos, alimentando minh’alma.

...o meu primeiro amor!

Feliz de quem viveu um amor puro e verdadeiro, um amor inocente que fala a língua dos anjos, o amor primeiro, recheado de fantasias. Amor que vivenciamos neste universo inócuo, universo sem culpa.

O primeiro amor sempre vem para ficar. O sabor de beijos ingênuos, cálidos abraços, olhos perdidos em miragens de encantos ...

Este foi o meu primeiro amor. O encontro de dois corações apaixonados, dois lábios que se uniram cheios de prazer, juras e confidências, abraços apertados em pactos silentes.

Como estou feliz. Como sou feliz por ter tido um grande amor!

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