segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Chão batido

Chão batido, chão pisado, chão sofrido, chão cansado, chão nativo... Reverencio este chão querido por onde andou minha vida, a procura incansável de mim, procurando na alma das coisas, procurando na alma dos outros, esta minh´alma sofrida e perdida de mim, perdida de todos.

Relembrei-me de que eu estou em mim.

Beijo-te, Chão batido, pela companhia que me fez ao lado deste tempo de esperança. Tempo em que andei sob chuvas, Sol, tempestade e bonança!

Chão pisado, chão sofrido, eu te agradeço pela acolhida, eu te peço perdão pelas pisadas. Nunca te vi como caminho nem como estrada, sempre te vi como escada. Em cada momento, em cada passo, senti-me uma eternidade, senti o gosto triste do nunca chegar. Mantive-me na fé de um dia realizar!

Chão cansado, chão nativo, eu te reverencio pela paciência, ao oferecer este caminho a este peregrino buscador. Gratidão, Chão cansado, Gratidão, Chão nativo. Mesmo não te vendo como uma estrada, eu te sinto como o Deus do caminho, mesmo numa encruzilhada!

És, Chão pisado, a testemunha de meus passos por esta longa caminhada, na busca de tudo, na busca do nada. Saímos, como todos, com olhos vendados, tendo a fé como escudo, a escuridão como companheira.

Sentimos os perfumes das flores do campo, postadas à beira da estrada, a nos cumprimentar, desejando a sorte de ave altaneira.

Sim, Chão nativo, agradeço as pedras que encontrei em todas as veredas, deixando chagas em meus pés, cicatrizadas pelo tempo, pelo barro, transformadas em medalhas, no final da caminhada!

Não sabia se estava em guerra. Não sabia se estava em paz. Chegava a confundir os paradigmas. Guerra & Paz passou a ser a mesma alegria ou a mesma dor, tamanha a escuridão! Neste caminhar, nesta batalha, cada momento representa uma eternidade e muitas vezes sentia a eternidade em cada momento! Caídas e ascensões tornaram-se meu cotidiano. Mesmo sabendo que as caídas são humanas, as ascensões, divinas. Deixei de me preocupar se estava na Gaia ou nos Campos Elíseos, mesmo tendo a sensação de ter trazido o céu a Terra!

Descobri que a escuridão estava quando estávamos acordados, de olhos abertos. Descobri que vivemos quando dormimos, que vivemos quando morremos... Precisamos morrer e renascer urgentemente, a cada momento!

Precisamos dormir ou morrer para viver, precisamos nos conhecer, nos encontrar, para encontrar a clara luz! Nós chegamos quando nos encontramos!

Cheguei.

Depois de longa caminhada, descobri que eu me buscava. Eu sempre fui um ausente de mim, sempre fui o meu eterno desconhecido! Eu sempre estive em mim e sempre me buscava na alma das coisas, na alma das pessoas!

Não perdi meu tempo. Foram bons os encontros que mantive com todos os Chãos, com as pedras, com as flores do caminho, com as chuvas, com as tempestades, com as bonanças. Aprendi a ler os sinais da natureza.

Foi bom.

Eu me encontrei. Isto não quer dizer missão cumprida, quer dizer missão iniciada. É a partir de agora que inicia o outro caminhar, o viver a vida de Cirineu, ajudando a carregar outras tantas cruzes do caminho.

Deixamos de ver os Chãos como Chãos pisados, Chãos sofridos, Chãos de toda sorte. Passamos a vê-los como

Chão de estrelas!

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